Universidade Federal do Ceará

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terça-feira, 27 de outubro de 2009

Cinema: Uma nova França

Por enquanto, deixe de lado as clássicas imagens que a França construiu e exportou para o mundo ao longo de sua história. Ou ainda: mesmo que essas imagens continuem no imaginário & não é tão fácil descartá-las & se permita elaborar outras narrativas por sobre elas. Uma das propostas do ano de promoção da cultura francesa no Brasil é essa. Atualização de ícones ou nova safra deles: através da música, do teatro, da dança e de muitas outras manifestações artísticas, que se alastraram pelo País desde o começo do ano. Com o cinema não foi diferente. O Ano da França no Brasil já esteve em festivais como a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e promoveu o Ópera na Tela, que levou filmes de ópera ao Rio de Janeiro.
Em Fortaleza, tem início hoje mais um evento que integra a programação oficial do Ano. É a Mostra de Cinema Francês Contemporâneo, que acontece no Centro Cultural Sesc Luiz Severiano Ribeiro (Cine São Luiz) até a próxima terça-feira, dia 3 de novembro. Na lista de filmes, produções feitas entre 2000 e 2007, de realizadores jovens & à exceção de um e outro diretor. A mostra é aberta hoje, com a apresentação do filme A França, e a presença do diretor, Serge Bozon. E segue com Até Já, de Benoit Jacquot, Povoado Number One, de Rabah Ameur-ZaÏmeche, A esquiva, de Abdellatif Kechiche, O Último dos Loucos, de Laurent Achard, Assassinas, de Patrick Grandperret, De Volta à Normandia, de Nicolas Philibert, e termina com Tudo Perdoado, de Mia Hansen-Love, ao longo do evento.

Grande parte desses nomes e títulos é desconhecida do grande público verde amarelo. Escolhidos pelo grupo de críticos da antiga Cahiers du Cinema, a seleção apresenta uma outra França para o Brasil. ``É uma mostra de filmes recentes, de autores jovens. Uma imagem da França que não é a habitual, aquela a que os brasileiros estão acostumados. Ela congrega uma visão muito contemporânea e diversa``, avalia Brigitte Vayne, adida audiovisual da França no Brasil. Entre as temáticas, também questões que vão além daquelas circunscrita nos limites geográficos do país. Vayne cita Povoado Number One, em que um argelino recém saído da prisão é expulso da França e enviado ao seu país de origem. ``O filme é muito interessante porque mostra a relação entre França e Argélia. Entre as questões, as dificuldades dos argelinos que moram há muito tempo na França e tentam voltar ao seu país. Eles ficam sem identidade, buscam adaptação…``, cita.

Vayne também chama atenção para os filmes Tudo é Perdoado e A Esquiva. Este último retoma a questão da integração entre culturas diferentes. ``Este filme teve muita repercussão na França. É também uma história sobre a dificuldade de integração, sobre muitas pessoas que vêm de países diferentes. Já Tudo é Perdoado é feito por uma jovem mulher, Hansen-Love. É seu primeiro longa-metragem, e ela fala de ligação, um casal que usa a droga do pai. É um drama familiar``, detalha a adida. ``Como todos são filmes de autor, existe uma narrativa particular, uma maneira de contar as coisas de forma original. A França, por exemplo, é um filme de uma narrativa muito especial, com partes musicais que são filmadas ao vivo, em que o próprio realizador compôs a letra das canções``.

``Não é um musical, é um filme de guerra com canções``, explica Bozon, por telefone. ``Existe uma tradição de filmes de guerra, dos anos 40 e 50, que eu gosto muito, e que queria manter nesse filme``, continua. Passado durante a guerra de 1917, a produção tem como mote a história de Camille, esposa de um soldado do front. Como muitas mulheres, ela aguarda as cartas do marido. Numa delas, vem o ponto final ao casamento e o choque da moça. É ai que começa sua saga, à procura dele. Camille acaba encontrando uma leva de desertores, sem o saber.

A França não é o primeiro filme de Bozon, que já dirigiu A Amizade, de 1998, e Mods, de 2002. Já atuou em uma série de filmes, e é também crítico de cinema. ``Ser um crítico é uma boa escola. Você pode avaliar melhor o que gosta, o que não gosta, o que funciona, o que não funciona``, acredita. Eduardo Valente, crítico e cineasta da Cinética, conceituada revista eletrônica de cinema, considera que ``há no gesto de Serge Bozon de gerar o absurdo, através do deslocamento do sentido da apreensão das imagens e sons com os quais nos deparamos, que resulta muito mais eficaz como efeito de discurso. E é muito adequado que falemos de deslocamento, porque em seus vários sentidos é disso que fala A França``.

E-Mais > Brigitte Vayne, adida audiovisual da França no Brasil, avalia que são feitos aproximadamente 200 filmes na França, por ano. Chega, ao Brasil, algo em torno de 40 títulos. ``É preciso lembrar que, no Brasil, vem primeiro o cinema americano, com 85% do mercado. A produção nacional fica com cerca de 12%, e o mundo fica com o restante da porcentagem. E o filme francês é o mais forte nesse universo``. Uma forma de reverter o quadro? Com mais salas, acredita a adida.

SERVIÇO Mostra de Cinema Francês Contemporâneo - Abertura hoje, às 19h, no Centro Cultural Sesc Luiz Severiano Ribeiro (Cine São Luiz). Praça do Ferreira. Entrada gratuita. E de 28/10 a 3/11, sessões no mesmo endereço às 12h e às 18h30min. Outras informações: 3253.3332. (Fonte: Jornal O Povo, 27 de outubro de 2009).

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